IDENTIDADES





Uma forma de conhecer um pouco mais da sociedade santa-mariense, mostrando diferentes personagens da cidade, seus gostos e preferências...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Reinações de Orlando Fonseca


Tarde de segunda-feira, 38, 8 graus C, e lá estava ele, pontualmente às 13h30, para a primeira aula da semana. No dia mais quente do ano em Santa Maria, era como se os 51 verões na cidade já tivessem servido para que o semblante de Orlando Fonseca permanecesse indiferente ao calor e compenetrado ao universo da aula que estava para começar.


Invadi aquele espaço, em que alguns alunos tiravam dúvidas sobre estrutura de texto e gramática, e perguntei se poderia entrevistá-lo. “´É claro”, respondeu-me, prontamente. Voltei logo após a aula, por volta das 15h, e confesso não ter sido uma boa aspirante a repórter.


Nas palavras de Humberto Werneck, se algo ou alguém merece realmente o prêmio de Jornalismo Investigativo é o Google. Se consultado, são praticamente infinitas as possibilidades de encontrar o que se procura. Se procurado. Há menos de um ano estou em Santa Maria e perdi a conta de quantos elogios ouvi em relação ao trabalho da pessoa que estava a minha frente.


Ainda assim, não fui capaz de procurar o senhor Google, nem alguém que pudesse me ajudar e me senti envergonhada diante da história deste conhecido e até famoso professor de Redação e Expressão Oral, escritor, chefe do Departamento de Letras Vernáculas, além de inúmeras outras atribuições, que não se esgotam numa entrevista de 40 minutos.


Orlando nasceu em Santa Maria no dia 7 de outubro de 1955. É um senhor de meia idade, com um conhecimento que a maioria de nós levaria mais de um século para conseguir e, por outro lado, um modo e vida que invejaria qualquer jovem de 20 anos. Logo descobrimos que o pronome mais adequado é “você ou tu”, e que “você” desde cedo teve motivações especiais que explicam cada fato que relatou.

Um pequeno trecho da história

Ao pé da cama, a mãe ou a irmã de Orlando liam Monteiro Lobato. Um por um, fazendo com que a vontade de decifrar cada um daqueles conjuntos de palavras se tornasse crescente. Começou assim a história do escritor com a literatura. Logo, a mãe ensinou que a+m+o+r é = àquele sentimento que ele passou a sentir pela leitura e pela escrita. Nasceu, então, um quase compulsivo leitor e escritor.

Somente no ano passado ele contabilizou 45 livros lidos. Ao longo da vida podemos então fazer uma conta estimada de quantas histórias já foram conhecidas por ele. Sem contar os personagens que nasceram nas criações de Orlando.


A produção textual começou ainda na escola, e ainda no ensino médio, na época chamado científico, ele ganhou o primeiro prêmio literário.


Em 1978, quando já cursava Letras na UFSM, recebeu o Prêmio Revelação Literária - Apesul/IEL, pela poesia "Acalanto", e foi também de poesias o primeiro livro: Dossiê do Abstrato, de 1985. Depois disso, muitos outros vieram. Trabalhos e prêmios.


Em 1989 publicou a novela Poço de Luz, premiado pelo Instituto Estadual do Livro; em 1997 lançou “O quadrado da hipotenusa”; em 2001, “Da noite para o dia”, juvenil, e no mesmo ano “O fenômeno da produção poética”; em 2005, “Sangue no último ato”, também juvenil, além de peças de teatro, participações em antologias, livros de crônicas, ensaios publicados e diversas outras produções, que extrapolam as páginas de livros.


Desde 1979 Orlando é cronista em veículos de comunicação. Começou no jornal A razão, depois escreveu alguns anos para o Portal Terra e hoje escreve para o Diário de Santa Maria. Além disso, tem um espaço semanal na Rádio Universidade e um comentário mensal na TV Câmara.


Acreditem, sobra tempo para tudo. Leitura de livros, jornais, revistas, academia, massagem, cuidar da casa, preparar aulas, programas. Tudo.


Livro de cabeceira ele não tem nenhum, literalmente. Aliás, na cabeceira só revistas. “Essa leitura é para dormir. Livros tem que ser em outro momento, com mais atenção, concentração”. Entre os gostos preferidos, uma sucessão de citações. Autores como Fabrício Carpinejar, Mario Benedetti e Mario Vargas Llosa. E a literatura é acrescida pela música. Neste quesito, “o que agradar eu curto”.


Ao som de tudo o que agradar, e uma história que inclui solos de violão e baixo, ainda parece um menino travesso quando fala de um dos sonhos: voltar a estudar música, que um dia começou. Bem, aí é assunto para outro capítulo.


Aristóteles dizia que o prazer no trabalho aperfeiçoa a obra. Assim, mesmo conhecendo tão pouco, sei que a obra é admirável e que o prazer pelo trabalho justifica a inexistência de um plano de aposentadoria (mesmo que oficialmente só faltem seis anos). O que ele vai fazer no futuro?


Trabalhar, com prazer, e possivelmente com uma obra sem valor estimado.


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