“Ah, esqueci de falar desse, que é um dos mais procurados. Esse eu garanto que levanta tudo”. Com uma enorme raiz nas mãos, contrastando com as unhas vermelhas e um sorriso alvo de orelha a orelha, dona Julinha é toda cheia de si. “Já até saí no jornal também, sabia?”.
Modéstia, nenhuma. As palavras se tornavam confundíveis com o barulho de transeuntes e ônibus que passavam no cantinho de chás em frente à catedral e ela resolve o problema em poucas palavras. “Vem mais perto da princesa, que aí ouve melhor, vem”. Mas a falta de modéstia não faz dela prepotente, muito pelo contrário. Mostra que gostar de si é dos atributos que a faz uma pessoa tão especial, simples assim.
Dona Julinha é Julia Pereira da Silva, 63 anos, o semblante de 60 e a personalidade de qualquer idade, a gosto do freguês. Há 10 anos ela trabalha ali. Exatamente o tempo que dura o casamento com Edson Ferreira – marido e dono da barraquinha cujo nome revela muito sobre as crenças e a própria vida: “O cantinho das plantas que curam é a natureza de Deus”.
Ali tem pelo menos cinco dezenas de qualidades de chás. Alguns mais conhecidos como a marcela, a carqueja, o alcachofre. Outros engraçados como a mamica de cadela. Um por um ela sabe o nome e para que serve. Um conhecimento que adquiriu principalmente com a avó, em São Nicolau, onde nasceu e viveu até os 15 anos, com o marido, e também em alguns livros, numa leitura lenta e trabalhosa, pela “falta de estudo”.
O primeiro casamento trouxe 3 filhos homens e sete netos. O marido faleceu e algum tempo depois ela conheceu Edson, ali mesmo, na barraquinha. Casaram e então sua vida então passou a ser no “melhor lugar do mundo e fazendo o que eu mais gosto de fazer”.
Embalados pelo Teixerinha, com a música “Aliança”, eles construíram uma história de chás e de fé. “Tudo é de Deus. As plantas são de Deus e por isso tem poder, mas tem que ter fé.”
Quando não é ele quem está na barraquinha, é ela, num revezamento que não cansa. Em casa, ela prepara um chazinho gostoso e leva para ele tomar, numa rotina que não entedia, mas dá prazer.
No quintal de casa ela cultiva toda esta história, sem cessar, cuidando para que nem o calor, nem o frio, nem clima nenhum estrague o que é fonte de alegria e sobrevivência.
Assim, tia Julinha, mamãe Julia ou seja lá como a chamem continua escrevendo as páginas de sua vida. Escrevendo? Ok. Ainda não. Mas pra quem duvida, mesmo com a "falta de estudo", ela tem uma frase determinada. “Um dia vocês vão ver um livro chamado 'Julinha dos chás', já pensou?”.
Se deus quiser.
Um comentário:
Géssica! Bem bom o texto. Adorei!
beijoos
Postar um comentário